Chega de falar de namorado... rs...
Hoje vou falar de algo que tem apertado meu coração tem alguns dias. A avó da Mirna morreu e meu irmão foi na cartomante que lhe disse que meu avô está se despedindo da gente, que ele não quer mais estar aqui. E isso anda me doendo o peito de um jeito que chega me tira o ar. Fazem cinco anos que meu avô mora comigo. Fazem 20 anos que moro perto dos meus avós. Todo dia passava na casa da vovó, pra comer alguma coisa gostosa que ela costumava fazer (algo que com certeza vou levar pra vida de gordinha tensa, sabendo que foi ela que me fez gordinha com seus biotônicos e gemadas, porque criança tem que ser gordinha), ou até pra subir na escada, que ele ligava me pedindo pra ir, falando que ela tinha que morrer mesmo que ninguém ligava pra ela, caso eu dissesse que não podia. Tive avós maravilhosos de ambos os lados, mas morar na mesma rua que os avós maternos é diferente. É escutar a história de como eles se conheceram. É saber o que meu avô gostava de comer. É decorar os hábitos deles, saber que depois do almoço eles iam tirar uma soneca (foi com eles que aprendi a dormir depois do almoço). Minha vida está permeada de lembranças da Dona Ivone e do Seu Carlos.
Eu passaria horas descrevendo tudo o que aprendi com eles. Vovô amava caminhar pela W3, ir a pé em tudo o que era lugar. Vovó cozinhava com um pano no pescoço. Vovó me ensinou tudo o que sei de cozinha. Vovô me colocava pra trabalhar de coroinha da Igreja, organizar o dinheiro da oferta, organizar as hóstias. Com ele também visitei doentes para levar a hóstia sagrada. Vovó me ensinou a costurar. A ser rápida na cozinha. Eles me moldaram em tantas formas que jamais vou poder escrever tudo.
Então, vovó ficou doente depois da morte do meu Tio Catonho (Carlos Antônio). Foram duros dois anos em hospitais. Vivi toda forma de situação com ele. Até troquei fralda. Vi convulsões. Mas meu avô sempre teve um coração fraco e uma saúde mais fraca ainda. Todo mundo imaginava que ele fosse ir primeiro. Depois da morte do meu tio, vovó descobriu a leucemia. O médico nos disse que ela já tinha a doença há 20 anos. Insistimos para que ela não fizesse a quimio. Ela insistiu,então mais dois anos de rodadas em hospitais. Agora mais do que nunca eu virei uma mini enfermeira. Morava perto do hospital, saia do estágio ou da faculdade e ia ficar com ela. Sempre ficava por perto. Eu simplesmente não conseguia não estar ali. Todo mundo se acostumou bastante com o meu apego a vovó. Nos últimos 2 meses de vida dela, éramos somente eu e mamãe trocando no hospital. Meu tio viajando, minha tia com a boca operada e minha outra tia somente alegava que morava longe demais (o que eu acho absurdo).
Vovó se foi e vovô veio morar conosco. Acho que ninguém sabe exatamente o que isso significou pra nós aqui de casa. Nossa rotina de adaptou ao vovô. Final de semana, quando todo mundo sai, aqui em casa alguém tem que deixar de sair pra não deixar ele só. São muitas coisas para contabilizar. Assistir novela pra fazer companhia pra ele. Criar o ouvido sensível pra escutar um chamado dele independente de onde ele esteja. Arrumar os remédios de oito em oito dias. Sair pra comprar remédio. Levar no psicólogo. Levar no podólogo. Levar ele pra almoçar fora no domingo, porque ele gosta e ele passa a semana inteira em casa. Comprar a pizza que ele gosta no sábado a noite. Esquentar a água todo dia pra ele tomar chá a noite. E tantas milhares de coisas que a gente já faz de forma tão automática que nem percebemos. Nós mudamos os hábitos para ele e ele nos mudou. Somos uma grande família, igual a da Globo, que tem no começo tinha o avô junto. Ninguém tem ideia do quanto isso significa, o quanto isso muda tudo.
Não no sentido de responsabilidades. No sentido de respeito, de dar boa noite (pedir benção) todo dia pra ele. Apresentar nossos amigos pra ele. Trazer o namorado para ele conhecer. Sair no meio do banho para ele usar o banheiro. Com ele aprendi o respeito aos idosos, de verdade. De saber o tanto que a vida deles é mais difícil.
Muda no sentido que temos dois pais. Porque o vovô quer saber como foi a minha viagem. Quer saber como foi o feriado quando ele estava na casa dos meus tios. Ele quer indicar um remédio para quando estamos doentes. Quer me dar um dinheirinho quando faço agradinhos para ele. Tudo acontece no meu dia a dia de forma tão automática há cinco anos. Não dá pra contabilizar agora o tamanho do buraco que vai ficar na hora que ele for.
Tento me educar, pensar no Budismo que nos ensina que cada um tem o seu tempo. Penso no Espiritismo que nos ensina que minha avó está esperando ansiosa por ele, e que de alguma forma irei revê-lo. Penso no Cristianismo que nos ensina que a morte não é o final. Mas nenhuma dessas religiões, credos, filosofias, vai preencher o tamanho do buraco no meu dia a dia que vai ficar. A saudade que vou sentir. Eu planejei tê-lo no meu casamento. Eu quero que meu avô veja meu primeiro filho. Agora, tudo fica abalado, esfumaçado, fora de foco. Não sei pensar nessa possibilidade sem segurar um choro bruto e intenso dentro de mim. Paro de escrever agora, porque eu vou chorar!