7 de abr. de 2012

Meus desejos indecentes

Será que sou tão errada assim? Deve haver algo de muito errado comigo por desejar tão veementemente algo que não conheço além das páginas de meus livros. Agora me sinto arder, da cabeça aos pés de puro desejo, mas não apenas o mero e puro desejo carnal, aquele calor que se deposita em nossa cerne e segue irradiando pela pele, exprimindo o mais puro desejo de ser tocada e tomada como uma espécie de território. Esse desejo carnal que agora me permeia por todo canto... Esse é um desejo inerente a mim, desde que descobri os prazeres da carne, sou assim, ávida, insaciável. Numa sede incontrolável, como um viciado que dorme e acorda em função de seu vício doente. Sou doente da carne. Sou doente de desejo. Mas o desejo carnal em si é passível de saciar. O que desejo é desconhecido, nunca o vi, apenas o sinto vibrando numa frequência inaudível, mas que segue pulsando além do meu próprio pulsar e quando se esvanece, se deposita cá no meio do peito como um animal que mesmo adormecido apresenta perigo.
O que desejo é uma mistura de pó estelar e terra, tem um pouco de sonhos coloridos cor de maçã de amor e tem um pouco de cheiro da cama depois do sexo. O que procura é uma união perfeita do carnal e do sentimental.
Nas páginas de meus livros, diversas vezes encontrei tal mistura, daquela personagem que exprimia um amor imensurável, capaz daqueles rápidos choques, inúmeros arrepios. Esse tipo de sentimento nos desperta por inteiro, o mundo parece maior e colorido, como se nosso campo visual tivesse se aberto e abrigado todas as tonalidades antes não vistas.
E ante a isso que surja conjuntamente o desejo da carne, mas um desejo diferente, um que se mistura com o sentimento de dentro e exploda em quinhentas cores, em espectros inemagináveis. Ante a tanta complexidade, sinto a impossibilidade do que desejo. E por mais que eu esteja sempre esperançosa de encontrar o que de fato procuro, essa caminhada longa já comeu as solas de meus sapatos. A caminhada está começando a machucar a sola dos meus pés, as pedras do caminho agora espetam a carne a a fazem sangrar levemente, não o bastante para me matar, mas apenas o necessário para não me deixar esquecer a dor. As juntas de meus joelhos se compadecem de minha caminhada mas gritam do esforço. E mesmo cansada sou capaz de tentar novamente, novamente e então mais uma vez. Mas a procura é inútil, e o cansaço se amplia.
Até quando vou passar noites insones imaginando cenas impossíveis e românticas? Até quando? Será que meu coração jamais vai se esquecer desse desejo? Será que jamais vou esfriar de fato?