13 de set. de 2014

Eu não moro mais em mim

Me sinto pela metade. Nunca a Calcanhotto me definiu tão bem.
Porque diabos sinto que não houve fim? Porque existe aqui dentro uma sensação de que isso tudo não é o fim?
Hoje o dia passou irritadiço, um choro grudado, estancado, gritado e preso ficou aqui. Talvez a sensação de não-fim seja a minha falta de aceitação do nosso fim.
Porque no fim das contas, não importa mais. Preciso dar o grito final por mim, porque não tem como existir um relacionamento com alguém que não me coloca como prioridade em nada. Me machucou como ele ficou irritado por eu ter saído com outras pessoas. Mas nunca doeu nele todos os fins de semana que fiquei em casa embalada pela vontade de estar com ele. As saídas foram mega fugas. Ele estava lá comigo, quando comparava como o sorriso dele era mais bonito, ou como o cheiro dele parecia permear o tempo todo, ou como eu nunca consegui ficar desconcentrada perto dele, porque tudo é ele. Era ele.
Hei de aceitar nosso fim, por mim enfim, não por ele.
Porque mereço ser amada em minha completude, porque quero ser amada sem pensar, como se a pele do outro fizesse parte de um sistema inteiramente novo, onde eu pudesse me perder nele, onde eu pudesse só eu e só eu já fosse muito.
Mas nunca foi suficiente, nunca fui o que ele quis, nunca fui o que ele escolheu.
Quem sabe se eu soubesse certamente dos motivos dele eu tivesse mais paz. Sinto que nunca houve espaço porque a que veio antes ainda morava lá e ele nunca assumiu isso.
Mas ainda agora nesse meu rosto abatido, eu não consigo deixar de me culpar, de sentir que talvez eu não tenha conseguido conquistar ele suficientemente. Faz parte do meu hábito.
E ainda agora enquanto o TLC mostrava destinos de viagem, eu devaneei de fazer uma viagem com ele. Não consigo aceitar emocionalmente. Na minha razão sei que fiz o certo, sei que não dá pra continuar insistindo em alguém que não me escolhe, que não tem coragem o suficiente pra me escolher, que não teve a audácia de se arriscar pra que eu pudesse amá-lo de fato.
E esse amor absurdamente imenso que agora toma meu peito como seu, que rasga, embola, retumba, dói inteiro por conta dele, ele que nunca me quis, ele que nunca me deixou, ele que me rejeitou várias vezes, ele que me deixou esperando várias noites, ele que nunca mereceu, o oceano que sinto é dele. Desgraçado. Hijo de puta. Tenho vontade de amaldiçoar ele inteiro por ter tido o meu amor por inteiro, o amor que nunca me deixei dar, ele que nunca quis nada disso, fui dele mais que de todo mundo. Desgraçado.
E mesmo agora sentindo raiva de mim por ter amado ele nesse grau imenso, nesse grau sem medida que machuca, machucou todos os dias nesses últimos seis meses. Nesses meses onde aos poucos me machuquei muito, mais que os outros, por alguém que nunca me amou.
Não consigo imaginar que ele tenha sequer gostado de mim, porque então eu fico louca. Como entender alguém que goste de mim mas me manteve à distancia esse tempo todo?
Preciso me contentar, preciso aceitar, preciso enxergar por mais que ainda exista aqui tudo isso que sinto, por mais que eu me sinta partida, vazia, arrombada por dentro, eu deixei que ele fizesse isso tudo.
E sei também que não pude escolher racionalmente, me apaixonei por ele todos os dias, de uma forma irrevogável.
Eu só posso pedir, orar, implorar pra qualquer força divina que um dia pedi pra ele que fosse meu (veja o tamanho do absurdo, nesses meses eu cheguei até nisso, até pedir pra Deus que ele fosse meu porque ele nunca me entregou a totalidade dele), agora peço pra que ele não se torne um fantasma que todo os outros dele tenham que se assombrar, pra que ele não seja a pessoa que penso antes de dormir todas as noites, pra que os sonhos com ele cessem.
Esse sentimento me sufocou dia todo, vai me sufocar por vários dias. Vai ser difícil aceitar que embora eu ame ele agora mais que tudo, que eu queira ele mais que eu já quis alguém, que eu seja dele num grau imenso, não aceito ser eu só a me entregar, não aceito que só eu sinta isso.
Já fui refém de um sentimento assim, me recuso a ser novamente.
Meu deus como dói.
Fazia anos que não doía assim.
E apesar de eu cogitado hoje que a minha existência seja um descanso divino, por mais que eu tenha me odiado mais que amado ele. Eu sei que vai melhorar, sei que vai chegar naquele ponto onde a dor se torna acalento.
Respira, um dia vai passar, e se não passar, vc aprende a viver de novo.