9 de nov. de 2014

Meu pobre coração que vive numa garrafa...

Tenho sentido uma imensa carência esses dias. Carência de algo que eu experimentei tão pouco, uma vontade de viver um amor em paz. Diferente do que eu gosto, a intensidade dos dias malucos, dos sentimentos extremos, sinto falta de um relacionamento que funcione à luz da paz. Mas a cada dia que passa de fato entendo que o problema esteja e sempre esteve em mim. Meu lado super racional que me domina, me fez esse ser tão racional que racionaliza até o que sinto, que procura razões racionais em todos os sentimentos, nos motivos para desapegar ou nos meus fracassos amorosos.
Mas enfim voltei a frequentar ao templo, foi como acordar de fato, o campo visual parecia alargado, havia aquela sensação de que por dentro de repente, tudo tinha ficado em ordem. E na minha conversa com a monja percebi de que preciso ser menos dura comigo, algo que freqüentemente repito mas quase nunca consigo. É um vício, aprendi a ser esse ser que vive na extremidade, que gosta do ar rarefeito do parapeito, que se exalta com o sexo casual de sábado a noite, que parece amar tudo que é extremo mas ainda assim mantenho meu lado emocional dentro da minha própria garrafa.
Exatamente como o conto do fazendeiro que prendeu o lindo ganso dentro da garrafa e nao pode quebrar a garrafa para tirá-lo de lá, eu prendi meu emocional, a parte mais sensível de mim, dentro de uma linda garrafa de vidro. Porque prendi? Porque meu lado emocional é frágil, é uma luz infinita que mora nesse peito que carrega capacidades incríveis, capaz de fazer pelos outros aquilo que sequer faz por si, que se apaixona de forma tão intensa que me chega a ser danosa. Esse lado que por ser frágil, eu tive medo e prendi. E me dói vê-lo assim, diversas vezes as lágrimas alcançam meus olhos porque o racional nao sabe lidar com ele, o desmerece, arruma todo tipo de crítica das mais duras possíveis, para que ele continue onde está, dentro da garrafa.
Assim ele permanece lá, ontem durante todos os momentos em que eu dormi nos braços do outro, ai, o coração lá dentro fechou a cara, gritou o nome daquele que ele gostou, e eu tampei a rolha pra não escutar os clamores, e poder me perder em mais um sexo barato, em mais uma cama desconhecida, em mais uma noite que não muda em nada a minha vida, mas que faz mais uma camada de vidro na minha garrafa.